

Susto e comoção nos EUA com eleição de primeiro papa norte-americano
Assombrados e comovidos, os norte-americanos receberam nesta quinta-feira (8) o anúncio do primeiro papa da história oriundo dos Estados Unidos.
Sentado no limiar da imponente catedral de São Patrício, na 5ª Avenida em Nova York, Tim Anderson não conseguia acreditar que Robert Francis Prevost Martínez, nascido em Chicago há 69 anos e naturalizado peruano em 2015, seja Leão XIV, o novo líder da Igreja Católica.
"Estou em estado de choque. E depois, vem a alegria", comentou esse homem de 61 anos, que vive na região de Nova York.
"Será interessante, nestes tempos de tanta loucura, ver se ele conseguirá recuperar aquilo que conheci na infância, quando as igrejas estavam cheias e não vazias como hoje", observou, e expressou esperança de que o novo papa siga os passos de seu antecessor, Francisco, falecido em 21 de abril aos 88 anos.
Rosaria Vigorito, natural de Miami, na Flórida, afirmou "ter sentido a exaltação" dentro e fora da catedral de São Patrício, um ícone de Manhattan visitado diariamente por milhares de turistas.
Essa artista de 66 anos deseja um novo papa "reformista".
"Tenho apenas um problema com a Igreja Católica, e espero que isso seja corrigido: que finalmente permitam que mulheres possam ser ordenadas sacerdotes", declarou, usando um pequeno crucifixo de plástico ao redor do pescoço.
Entre as várias reformas que Francisco — o primeiro papa latino-americano — promoveu na Igreja, esteve a nomeação de mulheres para cargos-chave na Cúria.
Mas as expectativas das associações feministas sobre a abertura ao diaconato feminino foram frustradas ao final da última assembleia mundial sobre o futuro da Igreja.
- Trump e o papa -
O presidente norte-americano Donald Trump, que nesta quinta-feira considerou "uma grande honra" a eleição de Leão XIV, publicou dias antes uma imagem criada com inteligência artificial na qual aparece vestido como papa, menos de uma semana depois de ter assistido ao funeral de Francisco, com quem mantinha uma relação complicada.
Após o retorno do republicano à Casa Branca, em 20 de janeiro, o jesuíta argentino, grande defensor dos excluídos, não suavizou suas críticas.
Em uma carta incomum dirigida aos bispos norte-americanos e publicada pelo Vaticano, Francisco declarou que a expulsão de imigrantes "atenta contra a dignidade de muitos homens e mulheres" e pediu "uma fraternidade aberta a todos, sem exceção".
Leão XIV, norte-americano e com forte sensibilidade social, confrontará o presidente conservador?
"Espero que [ele] seja uma voz justa. Ponto. Nem democrata, nem republicano, que não faça política, mas que simplesmente diga [a Trump]: olhe para o seu povo, olhe para o seu país", respondeu Annie Elm, natural da Carolina do Norte, que se disse "exaltada" por ter um papa norte-americano.
Ao seu lado, Ruth Ann Deleon, uma amiga que ela visitava em Nova York, mencionou seu desejo de "unidade".
"Espero que o papa use sua influência para nos unir, para dizer não apenas ao nosso presidente, mas ao mundo inteiro que (...) cuidar do outro é a única coisa que pode nos manter vivos", afirmou.
- Surpresa total -
Nas redes sociais, muitos fãs dos Knicks, o time de basquete de Nova York que derrotou na noite de quarta-feira seu grande rival, o Boston Celtics (91–90), nos playoffs da NBA, comemoraram o fato de Leão XIV, assim como muitos jogadores do elenco, ter estudado na universidade católica privada de Villanova, perto da Filadélfia.
"Grande presságio para os Knicks!", disse Mark Gruskin, um usuário do X.
"Villanova, fundada sob os ensinamentos de Santo Agostinho, sempre buscou aprofundar a compreensão da relação fundamental entre fé e razão, entre espiritualidade e sabedoria", celebrou nesta quinta-feira o presidente da universidade, o reverendo Peter M. Donohue.
Ele destacou, em comunicado, "a humildade, a mansidão, a prudência e [a] calorosidade humana" de Leão XIV, cuja eleição confundiu os apostadores.
Poucos minutos antes do anúncio de um novo papa, os sites de apostas apontavam como favoritos o cardeal italiano Pietro Parolin, o filipino Luis Antonio Tagle, e até o patriarca de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa — mas não um norte-americano.
Nos Estados Unidos, a surpresa continuava sendo total.
E.Fournier--MJ